sexta-feira, fevereiro 26, 2021

Intervenção na Assembleia Municipal de 26 de fevereiro de 2021

Caros Munícipes,

Deixo aqui o conteúdo da minha intervenção na Assembleia Municipal de 26 de fevereiro de 2021. A título pessoal, expresso que vinquei, sem êxito, que deveria decorrer totalmente online. Assim, apresentei-me em respeito pela democracia. Diga-se que me tranquilizam o recurso generalizado a máscaras KN95, imposto à entrada, o distanciamento nos lugares, a opção por não haver intervalo, minimizando o tempo total, e o protocolo de apelo à não remoção das máscaras para falar. Ainda assim, optei por colocar uma segunda máscara FFP2 em cima da KN95.

No 1.º ponto da ordem de trabalhos:

Senhor Presidente: 

A atividade do município é de abandono dos ansianenses. 

Dizia há pouco a deputada Filomena Valente que a sorte é fruto de muitos acasos e tentava atribuir com isso o mérito ao executivo. Eu concordo, mérito bom e mérito mau. Mérito pelo que faz bem, que é pouco e demérito pelo que faz mal e não faz, que é a maior parte.

Confrontei pessoalmente o Senhor Presidente quando se descobriu que havia sigilosamente muitos casos de contágio de COVID-19 em Ansião. Os ansianenses foram enganados. Sentiam-se tranquilos sem novos casos anunciados pela Direção-Geral de Saúde, não contrariada pela Câmara. Descobriram a verdade quando se viram classificados de um dia para o outro como concelho de risco elevado, quando não foi mais possível esconder a verdade.

Mas o executivo liderado por si, senhor presidente, que preside à Comissão Municipal de Proteção Civil, sabia a verdade. Sabia que estavam a ocorrer muitos casos em Ansião. Que o grau de risco para os ansianenses era muito maior do que aquele que os munícipes julgavam. Ainda hoje nos mostrou isso. Perguntei-lhe então, estávamos os dois no Fundo da Rua:: "porque não meteu os números reais cá fora, já que sabia quais eram?" 

Agora, no sítio próprio, divulgo aos ansianenses a sua resposta, que tem duas partes. Ambas as partes revelam o abandono a que os ansianenses estão votados.  

Primeiro disse-me que não informou os ansianenses porque não lhe competia fazê-lo.

É todo um resumo deste executivo: faz o que quer e aquilo a que o obrigam. Não o que deve. Abandonou os ansianenses. Podia tê-los informado e não informou.

Depois perguntou-me a mim próprio que diferença me faria.

Eu só só uma pessoa. O senhor presidente é só uma pessoa. Mas há mais 12.000 ansianenses. Nem todos se comportavam então com cuidado. Certamente que se estivessem mais informados, poderiam ter decidido resguardar-se. "Quem não sabe, é como quem não vê."  

Esta segunda parte completa o resumo deste executivo: não acredita na inteligência dos ansianenses. Acha que pensa melhor que todos, não apoia, impõe. Quis impor que os pais ficassem com os filhos quando não havia escola, sem saber se tinham condições. Agora desprezou que pudessem decidir melhor quando sabia - sem que os ansianenses soubessem - que havia muito mais contágio no concelho.
A culpa do contágio pode ser de muitos, mas a culpa de não decidirem plenamente informados já não: é só de alguns. 

Pergunto: não se arrepende?

O que pode mudar hoje, na atividade do município? Já teve muitas propostas dos vereadores do PSD, que ainda faz por ignorar. Passámos o pior mas vai ficar apenas à espera que o pior não volte como fez o governo PS do país depois da 1.ª vaga?  

No 3.º ponto da ordem de trabalhos:

Senhor Presidente:

Respondo primeiro ao repto que me fez no primeiro ponto. Nestes três anos e meio, nesta Assembleia, evita as questões de facto, refugia-se em figuras de estilo e opiniões. Senhor Presidente, não assumir falhas significa não as corrigir e portanto prejudicar os ansianenses. 

Se acha que as pessoas se deixam enganar por responder, com sarcasmo "agora a culpa é toda minha, peço desculpa pelos mortos todos" quando lhe apontam falhas específicas... As pessoas que pensem nisso e ajuízem.

Se concorda com os seus deputados quando dizem que as pessoas é que têm de ser responsáveis e os números não importam, os munícipes a ver a transmissão que achem se concordam: se acham que tanto faz saberem a verdade ou não. Eu acho que as pessoas devem saber - e decidir sabendo. Mas o senhor Presidente e o PS acham que tanto faz.

Ao contrário do que afirmou, que acha que divulgar os números não fez diferença, porque houve muitos casos de COVID-19 na mesma... Haja coragem para encarar a realidade, Senhor Presidente! As pessoas que ao saber da situação pior tenham passado a usar mais vezes e com mais cuidado a máscara, terão evitado alguma situação de risco. Essas pessoas acabaram por ser casos a menos e pouparam também os seus familiares e demais contágios que provocariam. Os casos subiram muito mas menos do que teriam subido. O senhor salvou pessoas certamente, a partir do momento em que passou a divulgar os números reais. E não as salvou, quando podia ter salvado, nos meses anteriores em que não o fez. Nos meses em que se ficou pelo que aqui disse hoje: não era consigo, era com a comissão, era com a proteção, era com a delegação. Houve vários presidentes de câmaras que pensaram de outra forma: não era com eles mas iriam agir na mesma. Não há forma de evitar os erros todos. Mas não os reconhecer, sem sarcasmo, aumenta o risco de não aprender com eles.

Vamos então a este ponto 3. 

O senhor disse aqui que asfaltou caminhos florestais porque lho pediram. Fez uma escolha. 

Mas por que motivo escolhe usar os dinheiros disponíveis para asfaltar caminhos florestais, sem casas, enquanto que para outras necessidades das famílias a resposta foi como disse aqui hoje, que "o dinheiro não é elástico"? Porque é que os dinheiros disponíveis tiveram um destino que pouco apoio teria dos cidadãos, enquanto que aquilo que os cidadãos necessitam vai ser pago por empréstimos?

Ou seja: aquilo quer toda a gente quer vem aqui à Assembleia ser discutido para ser aprovado por empréstimo, para nos acusar de sermos contra as obras. Mas aquilo que interessa a poucos paga-se com o dinheiro disponível sem vir aqui ser discutido. Porque é que fez esta escolha?

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