Caros munícipes,
Aqui deixo a minha intervenção no período antes da ordem do dia da Assembleia Municipal de Ansião de 28 de fevereiro de 2020.
Senhor Presidente:
Aos munícipes, o que mais se anseia do executivo municipal é sentir que este os representa e defende. Como munícipe, tenho testemunhado vários episódios que me preocupam por ver um executivo mais centrado em si mesmo do que nos munícipes.
Se calhar devia ter percebido quando as primeiras intervenções nesta casa foram para dizer que chegara a democracia. Estranha e preocupante conceção de democracia, achar que só existe quando se ganha. Mas atribuí ao entusiasmo.
Se calhar devia ter percebido quando se eternizou a reparação dos danos nas infraestruturas - como os buracos que há semanas se mantêm nas pontes do parque verde - e a conclusão de obras se eternizaram, embora o pagamento de refeições em grande número nas festas e demais gastos de imagem se tenham agilizado. Mas atribuí à inexperiência e novamente ao entusiasmo.
Se calhar devia ter percebido quando as opções estratégias para desenvolvimento do concelho foram adiadas ou substituídas por cosmética. Mas atribuí à insegurança de querer afirmar-se diferente.
Mas o acumular de circunstâncias não me permite manter essas interpretações:
- vivi o silêncio e abandono dos munícipes com a passagem das águas para a APIN perante um silêncio displicente da câmara;
- constatei a relação díspar do executivo com o associativismo chegando a não estar nenhum membro presente em cerimónias de diversas coletividades;
- testemunhei como o vice-presidente quis ditar às famílias como viver a sua própria vida.
Destes, trago hoje este último aspeto, conforme me comprometi a tal na reunião da associação de pais da escola, em face do espanto geral pelo que vivenciámos.
Foi exposto aos pais de crianças da creche e jardim de infância que haveria 6 semanas sem qualquer apoio às famílias. Como as famílias só têm 4 semanas de férias, expus os problemas que isso causa às famílias, obrigadas a passar férias separadas, obrigadas a despesas com a vigilância das crianças nas semanas em que os pais estivessem a trabalhar.
Perante a nota de que nem todas as famílias têm a sorte de ter avós disponíveis, como eu tenho; que nem todas têm disponibilidade financeira para pagar a empresas de tempos livres, sendo condenadas a passar férias separados, um adulto a trabalhar enquanto o outro toma conta dos filhos, para abrangerem as seis semanas, chegou-se a esta tentativa de silenciamento: que a associação de pais tinha concordado com a proposta.
Repare, senhor presidente: o que importou não foi reagir aos problemas das famílias, foi silenciá-los.
A vice-presidente da associação, que tinha estado na reunião insurgiu-se: não tinha expressado tal concordância: tinham-lhe simplesmente sido apresentadas em reunião as seis semanas como aquilo que o município propunha, que era melhor do que o ano anterior. Não havendo qualquer negociação e sendo preciso votar sobre avançar ou não, simplesmente votou a favor para o processo continuar, em nenhum momento lhe fora solicitado parecer que pudesse ser apresentado como concordância da associação de pais.
Surpresa das surpresas: o vice-presidente justificou esta opção na reunião de pais dizendo que achava que se devia forçar as famílias a estar com os filhos. E para que ninguém achasse que era lapso, enfatizou: "a palavra é forte mas acho mesmo que é preciso forçar". Ainda repetiu uma terceira vez: "forçar as famílias".
E no final, saindo da sala, ainda me disse que quem não tivesse alternativa que colocasse os filhos na Santa Casa.
São muitos casos, senhor presidente, mas vai alterar a conduta do executivo para ou continuará a forçá-los à vontade do executivo, a abandoná-los e a ser rápido só nas despesas sem estratégia, que não precisem de planeamento nem de futuro?
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